quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Além disso, sou terrivelmente instável e entender as minhas reações é coisa que às vezes nem eu mesmo consigo.
Não posso mentir a você, não quero. Mas por favor não fantasie, menina, não seja demasiado adolescente. Como eu te escrevi várias vezes, é no nosso encontro, cara a cara, olho a olho, que as coisas vão se definir. Veja se você consegue separar o sonho da realidade. Anel, por exemplo, é um sonho. É um sonho que trago comigo há muito tempo e que comuniquei a você — e que não é hora ainda de ser realidade, porque não tenho absolutamente nada além da minha cuca — você me entende?
Menina, menina, tenho uma ternura enorme por você — e para mim é muito difícil isolar essa ternura da razão, quando te escrevo. Como fiz agora. Talvez tenha te parecido duro ou demasiado frio. Mas acho, honestamente, que você não deve se arriscar a ter uma tremenda decepção, depois de um ano inteiro de sonhos. Nós vamos nos ver, nós vamos conversar, sair juntos, provavelmente nos tocar — e de repente tudo pode realmente ser. Ou não. Mas de jeito nenhum quero, sei lá, ser irresponsável ou não medir as conseqüências dum negócio que pode ser muito sério.
Já não sou o mesmo, como você também não é. Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Trecho de Divã

"…Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada.
Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Telvez este seja o ponto. Talvez eu Não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu patio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória,sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR

[Martha Medeiros]

terça-feira, 10 de agosto de 2010

'Saber amar...é saber deixar alguém te amar'

"ame sua sorte,ame seu cabelo e seu perfume, ame o sol, ame as suas músicas, ame seus medos, ame o que passou .. o que está acontecendo e o que está por vir ! apenas ame ... e depois de um tempo que você amar, se amar... comece tudo de novo mas dessa vez faça diferente .. ensine alguém a amar você ."

Mandando tudo pelo ralo...


O marasmo tomava conta de seu corpo cansado de ficar estirado naquele colchão desde a noite anterior. O relógio marcava 15:30 , e ela não sabia dizer o que a mantinha presa ali, naquela angústia, naquele sufoco. - E o que a sufocava? - perguntavam pessoas próximas. Ela dizia não saber. Não sabia admitir. Se passou um minuto, o relógio marcava agora 15:31. Foi aí que aconteceu. Ela se levantou. Lavou os pratos que traziam resto de comida a sua volta e também as peças íntimas que momentos antes estavam espalhadas pelo quarto. E se despiu. E naquele momento, não se despia apenas de roupas pesadas e suadas, mas também de todo aquele sentimento que a incomodava. Ligou o chuveiro. Sentiu a água passar por cada canto daquele corpo. E ia se despindo mais e mais, agora dos restos que estavam agarrados. Queria se amar e se amar. Dançou ao som da música que, através de um aparelho preenchia o lugar. Se sentiu leve, solta... Desligou o chuveiro. Pegou a toalha. E enquanto secava a superfície de ser corpo agora livre daquelas impurezas, pensou - E lá dentro? Como se faz pra mandar tudo pelo ralo?